Não importa o tamanho do quarto de hospital, nele cabem angústias e medos que ocupam um latifúndio com hectares de raízes selvagens de esperança.
As árvores balançam como se gritassem roucas por alívio. O tempo pinga devagar enquanto as paredes brancas lutam contra todas as pulsões que sustentam a maca, a cruz e o soro.
A acompanhante faz de tudo para proporcionar os pequenos caprichos em nome do pai. Ela leva suco de laranja com acerola, o sabor característico dos cafés preparados há muito, quando ela ainda ia pra escola. Lê trechos de autores que ele gosta, passa creme nas mãos e teme o movimento duro do relógio.
O pai respira como se todos os pregos do ateliê tivessem se esparramado de uma só vez embaixo da mesa. Era questão de tempo para a energia cair de vez e alguém precisar da lanterna para iluminar o túnel de pedras e ausências que mora nos refrões do Clube da Esquina.
Renato foi e sempre será o pai de Mariana, Tomás, Clarisse e Luca. Além de criá-los com engenhosidade e humor, durante décadas fez suco de fruta fresca pra prole e seus amigos. Tinha um jeito incomum de presentear seus filhos com uma escova de dente nova, algo que só entendemos depois de adultos.
Apesar do luto e da conjuntura absurda do país, vez ou outra nos pegamos vacilantes, sorrindo com os dentes saudáveis, como quem se esquece da violenta supremacia da vida, que vive nos tirando dos trilhos para que outro trem possa passar.
Que lindo!
Leda, que bom ter você por aqui : )
Bom dia!
Recebi agora seus textos através de Romélia minha amiga e amiga de sua mãe, que mora em SJR.
Tô de saída pra rua. Lerei mais a noitinha…
Sucesso e parabéns!
Seja bem-vinda, Doroti! Boa leitura (e sempre no seu tempo : )
Quanta emoção apreciar seus textos Paulinha. Minha tão doce aluna! Amei o seu jeito de escrever, suave e sincero. O Catavento Escola se orgulha de ter tido você como aluna, assim como eu.
Lourdes, que emoção ler o seu comentário! Sou muito grata por ter tido você como professora de português, tão fundamental no meu processo de alfabetização 🤍. Imagine só que um dos meus maiores medos no ensino fundamental era não conseguir aprender a ler. Acho no mínimo curioso onde esse medo me levou. Abraço grande.
Que texto foda! Arrepiada 😍
Mari, que surpresa boa você por aqui e que delícia um texto meu provocar arrepios : )