No topo da árvore, ele me pergunta como lidar com a neurose. E eu lá tenho cara de oráculo? 

Faz tempo que planto variações sobre as mesmas tramas e pulo de galho em galho como um mico faminto por bananas podres. Veja só aquele belo enlace neurótico! E com água na boca, me jogo no galho como quem fall in the deep.

Dois problemas num galho só? Um prazer circense digno de estripulias. De galho em galho, estendo meus braços familiarizados com as raízes dos enredos. Bem lá pra cima da árvore, tem uma colmeia, e eu passo longe das tiranias mascaradas de doçura, típicas das abelhas rainhas. Eis o pensamento da macaquinha operária. 

Dou de cara com uma casa de joão-de-barro inabitada e me espanto com o silêncio que ecoa no rústico recinto. Fujo dessa humilde residência, me meto no meio dos bem-te-vis e me irrito profundamente com a esperança e o bom humor disfarçados de histeria. Aquele canto trissilábico, típico dos triângulos. 

Paro num galho com folhas secas e de longe admiro a exuberância de um ipê, singelo na ternura e melancólico na brevidade. O vento sopra ares de chuva, e os galhos se agitam em homenagem às pétalas do branco ipê: sedentas para beijar o chão e encontrar suas úmidas raízes. 

O sol depõe contra o tempo, convidando vagalumes para fazerem da árvore sua morada e dos galhos seus enlaces. Sem nada em troca, eles jogam luz no tronco das questões. Sentimos as pegadas das horas, crescendo e morrendo rápido como as folhas que se despedem despreocupadas, contra qualquer tipo de obsessão.  

A lua aparece e ilumina os nossos becos sinistros. Morcegos voam. Corujas piam. Se a pira agora é com as árvores, me espanto de não cismar com as raízes. Decerto, não quero mexer nesse covil, sou apenas uma gralha azul e só quero quebrar alguns galhos.

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