Admiro a postura das árvores serenas e seguras aos beijos dos ventos. Plácida, uma delas compartilha seu espaço comigo, sem sombra de dúvidas um porto para descansar, um pouso para descascar aqueles cansaços secos de repetição. As raízes suportam a estafa e a gravidade dos pretéritos, os passarinhos dançam a sinfonia dos tempos, e as flores anunciam o novo equinócio. Há casulos escondidos nos galhos. Há borboletas em tons terrosos, discretas metamorfoses que se camuflam no mimetismo do bosque, enquanto as folhas se descabelam livres antes do entardecer.

As pedras do ressentimento ainda sustentam aqueles barrancos e um dia, quem sabe, viram poeira, daquelas que ressecam os olhos e depois são pisoteadas por cavalos.

Mergulho os pés no córrego e deslizo as memórias na argila. Sinto nos dedos a textura característica de quem brinca sem medo de se sujar. Mal cheguei e já me sinto outra. Um riacho escorre sem pressa o contorno das mágoas.

Texto feito para Letícia, que outro dia pediu que eu escrevesse sobre a conexão com a natureza. Se você, leitora (o) quiser sugerir um gancho, personagem ou sintoma, acesse a aba ego coletivo e fique à vontade : )

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Comentários

  1. Fernanda Rodrigues says:

    Oi, Paula!
    Estar em contato com a natureza nos lembra que a gente também faz parte dela. Cada vez mais precisamos desse relembrar. Você nos trouxe um pedaço dessa delicadeza com o seu texto. Que linda é a poesia da vida!
    Amei te ler.
    Um beijo,

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